terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Encruzilhadas


Nem sempre é fácil, virar a mesa e explodir. O mundo vai virando e nós vamos fugindo dos momentos mais dolorosos. Ao deparar-nos com uma encruzilhada, regressa a sensação de pânico e de completa insegurança...desprotegidos, sozinhos, totalmente livres e com uma decisão a tomar, uma decisão que é independente.
Na realidade, haver alguém que decida por nós, é tão melhor...alguém a quem apontar o dedo se tudo correr mal (porque já sabemos que todos os caminhos têm desvantagens), alguém responsável pelos nossos actos, alguém que comande os nossos sentimentos. Deus? Destino? Talvez...
A realidade é que muitas vezes não há ninguém que esteja por perto e aquilo que escolhermos é capaz de revirar uma vida inteira, sem que possamos voltar atrás para o corrigir.
Mas numa próxima encruzilhada, podemos sempre transformar tudo novamente. Talvez só aprendamos, quando acordarmos com a certeza que somos nós que comandamos, dirigimos e actuamos...somos o pacote completo e talvez o Universo seja apenas aquilo que projectamos de dentro de nós.




Nelson Mandela, interpretado por Morgan Freeman, na cela 46664 - Invictus por Clint Eastwood (2009)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Recomeçar


Rasgar o papel e aproximar a caneta de uma nova folha em branco. Destruir a tela e aproximar a tinta de uma parede nua. Tentar desfocar a realidade para poder imaginar uma nova hipótese, um fim alternativo e realizá-lo, de mãos vazias. Recomeçar está na natureza do ser. O difícil é admirar uma obra e admitir ou até mesmo considerar que tenha surgido de algo vazio, nu ou inexistente.
Recomeçar é regressar à origem a algo tão assustador como a possibilidade de tudo, o espesso néctar que nunca parece cessar a sede de eterno, do círculo perfeito, do dedo que finalmente alcança a plenitude e a textura do horizonte.
Recomeçar é voltar a sentir no céu da boca o sabor acre do medo, o medo de chegar apenas perto, de enlouquecer, de falhar. Reconhecer que o impossível é possível e que na palma da mão cabe o universo inteiro, galáxias e corpos que não se podem percepcionar com os seis sentidos. Na ponta do pincel, num básico grito de desespero está a hipótese de criar, de viajar, de sentir, de experimentar, de conseguir, de saber e descobrir.
Recomeçar é ser livre. Livre para fracassar e descobrir que não descobriu, para desiludir e destruir até não ficar nada.

Livre para recomeçar.




Hugh Jackman em The Fountain de Darren Aronofsky (2006)


terça-feira, 15 de setembro de 2009

Auto-responsabilização


O mundo dá mesmo muitas voltas, ou serei apenas eu que rodo incansavelmente sobre mim própria? O que é certo é que esbarro sempre sobre algumas coisas que sempre ali estiveram. Aqui estou eu a pensar nas ironias da vida, quando chego a mais uma conclusão buda-like... Auto-responsabilização!! Ou tal como diria, o Eddie Vedder, "It's evolution, baby!"

Ultimamente tenho esbarrado com livros, filmes e pessoas que tocam este assunto. "Se não sabes para onde vais, porque teimas em correr?"*, uma coisa é certa, está a fugir da sua própria responsabilidade, minha cara Amália. Venha quem vier, esta tendência de culpabilizarmos todos os factores externos às nossas decisões, está enraizada na mente social. Denominamos a nossa forma de vida, como livre, independente, e no entanto dependemos no reconhecimento externo ou até mesmo na falta dele, para depois determinar a injustiça de que sofremos. Mas que raio de liberdade...não consigo compreender e aproveito mesmo para deixar aqui claro que não acho que a tal evolution esteja concluída no CV do meu humilde ser, nem tão pouco dos pós doutorados e professores catedráticos da nossa sociedade.

Desengane-se o mais bem colocado e também o mal colocado que se culpam mutuamente pelos seus "incómodos". Há que voltar ás raízes e aí não há ninguém que me convença do contrário: somos iguais. Feitios, personalidades, cores de pele, orientações sexuais e outras tendências diferentes, mas iguais na condição. É aqui que falo do poder de decisão que cada um tem, da liberdade que possui desde o início, tal como na independência, mas falo também na responsabilidade sobre os seus actos, que obviamente faz parte do pacote. Esta parte é muitas vezes esquecida, que frequentemente eu mesma esqueço, porque não há dúvida da facilidade que existe na culpabilização externa em relação a todos os males sociais do momento.

"Esta é uma reportagem sobre um bairro problemático, onde vivem x nº de pessoas cuja única saída é o crime", explica a séria e metódica jornalista da SIC. E eu pergunto-me...a única saída? Este é apenas um exemplo, pois também também há o típico exemplo do senhor sentado na sua poltrona (que por sinal, já está em fase de fusão ao seu corpo) e aponta o dedo ao político que surge na imagem da TV "Aquele é o culpado. É por causa disto que o país não anda para a frente". Nem o político vitorioso se apercebe que de vitória teve pouco, pois apenas menos de metade do país votou, nem o senhor que lhe apontou o dedo se apercebe que o país não andou para a frente, porque faz parte de 60% da população que não se levantou da poltrona.

Agora eu sento-me, penso e concluo: pois claro que ando tonta que nem uma barata...rodopio, irrito-me, grito, queixo-me do que me correu mal, amaldiçoo determinada pessoa até à décima geração ou acontecimento até à exaustão, vou dormir, acordo melhor, até me chover mais uma série de problemas do mesmo género. De vez em quando, decido parar, quebrar o ciclo e PAM! Se calhar, eu tenho responsabilidade sobre as minhas decisões, se calhar sou eu que determino o meu rumo, se calhar sou eu a culpada, pois não fiz nada para que mudasse, porque não me levantei sozinha...porque não aprendi com o erro.

Ciclos: o mundo roda sobre si mesmo e à volta do sol, não pára nem se abana quando alguém decide bombardear uma cidade, nem quando um país volta a cair numa ditadura. Quanto a nós: rodamos sobre nós mesmos, sobre os mesmos acontecimentos vezes e vezes sem conta...até assumirmos que os provocámos, tentar uma alternativa e evoluir.


D.










*
Estranha Forma de Vida - Letra e música de Alfredo Duarte/Amália Rodrigues

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Protection

Porque há letras que conseguem tocar bem fundo, quando pensamos já conhecer completamente a música... A música é a mesma, as pessoas mudam com as estações.
Quanto ao tema, é mais do que pessoal, é uma forma de estar. Quem nunca sentiu a urgência de proteger?





Massive Attack - Protection
(...)
Sometimes you look so small, need some shelter
Just runnin' round and round, helter skelter
And I've leaned on you for years
Now you can lean on me
And that's more than love, that's the way
It should be
Now I can't change the way you think
But I can put my arms around you
That's just part of the deal
That's the way I feel
I put my arms around you

I stand in front of you
I'll take the force of the blow
Protection.


Para ti *

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Viagens internas


Parece que já passou uma eternidade mas ainda estou aqui, com os mesmos sonhos e a mesma teimosia, mas também com os mesmos olhares baixos e desilusões contínuas. A realidade é que o tempo parece reservar algumas surpresas intensas por entre momentos difíceis e os tão fáceis que facilmente escorregam por entre os dedos.
Como já esperava,o meu destino é afinal viajar...e não interessa se é para 400 km da minha casa ou simplesmente para dentro das páginas emocionantes de um bom livro. O meu espírito está no percurso que faço junto às encostas do Douro e nas tardes cheias de canecas de chá, de silêncio e pensamentos livres, acompanhados pelas asas dos melros.
Não imagino a minha vida sem estas pequenas grandes viagens e hoje, longe de tudo e de todos, sei como me fazem falta, como me alimentam. É tão bom estar longe do mundo dito normal, das pessoas e sítios obscuros, das relações unilaterais...e por outro lado, sentir a falta das pessoas que fazem realmente falta.
Talvez seja esse o lema das viagens, situar-nos numa perspectiva diferente, e observar-nos atentamente... são afinal tantas, as atitudes erradas que temos perante a vida, e suponho que quem perca sempre com as mesmas, sejamos nós e nós apenas.

hmm..vou voltar para onde pertenço...pelo menos durante uns bons e largos dias.
Darei notícias em breve.

D.

domingo, 1 de março de 2009

This is just a ride







É ao som de Crystal Ship que faço algumas revisões acerca de caminhos.
É engraçado que algumas conversas ao fim de tarde conseguem trazer tanta coisa à superfície, momentos, decisões tomadas, caminhos escolhidos, caminhos trilhados e os que simplesmente desfiz e refiz. O mais engraçado é que depois de muitas palavras, histórias e longos olhares nostálgicos me apercebi que... bolas! Ainda não fiz nada. Falta-me tanto, tanto.

Caio na tentação da urgência, e agarro com determinação o meu talismã e o meu mp3, as duas coisas essenciais para começar uma viagem memorável. Entro no autocarro e acompanho as nuvens, os cães lá fora que correm atrás de uma bola, a mulher apressada e um rapaz que teima em atravessar a estrada perigosa. As árvores abanam com o vento, grupos de pessoas correm em direcção do comboio, há olhares cruzados entre a mulher que está prestes a sair na penúltima paragem e o homem que está sentado no segundo banco individual. Alguém carregou no stop por mim, felizmente - detesto ter de fazê-lo.
Saio do autocarro e deparo-me com a minha faculdade, com o meu horário e calendário infernal, com um leque interminável de incoerências, com uma multidão de pessoas viciadas e perdidas. Afinal é mais um dia, mas sei que já o reinventei. Quem é que me pode dizer que não viajei memoravelmente?

"This is just a ride, and we can change it any time we want"
Bill Hicks (1961-1994)

ps: Obrigada à minha "companheira de viagem" por uma tarde muito bem passada.

D.



segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Turma

Mais do que um filme, uma perspectiva. A Educação é hoje um tema muito debatido não só em Portugal, como em toda a Europa. Entre les Murs de Laurent Cantet, traz para o grande ecrã uma interpretação da realidade de uma sala de aula e de uma Europa contemporânea.
Do livro de François Bégaudeau, nasce “A Turma”. O autor (que também encarna a personagem principal como professor) e o realizador trabalharam em conjunto neste projecto, tal como uma “turma”, da qual fazem parte actores não profissionais, todos estudantes do liceu Françoise Dolto em Paris.
A capital francesa, multiétnica, é o pano de fundo desta história que se desenrola na sala de aula de um liceu problemático.
François, o professor, tem pela frente um ano lectivo de confrontos culturais constantes entre os alunos. Apesar do seu esforço, muitos dos métodos entusiastas de respeito e de interajuda são postos em causa por estes adolescentes.
Na minha opinião, um filme importante, actual e que contribuirá para uma reflexão urgente. Parabéns mais uma vez ao cinema francês.

D.