quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Recomeçar


Rasgar o papel e aproximar a caneta de uma nova folha em branco. Destruir a tela e aproximar a tinta de uma parede nua. Tentar desfocar a realidade para poder imaginar uma nova hipótese, um fim alternativo e realizá-lo, de mãos vazias. Recomeçar está na natureza do ser. O difícil é admirar uma obra e admitir ou até mesmo considerar que tenha surgido de algo vazio, nu ou inexistente.
Recomeçar é regressar à origem a algo tão assustador como a possibilidade de tudo, o espesso néctar que nunca parece cessar a sede de eterno, do círculo perfeito, do dedo que finalmente alcança a plenitude e a textura do horizonte.
Recomeçar é voltar a sentir no céu da boca o sabor acre do medo, o medo de chegar apenas perto, de enlouquecer, de falhar. Reconhecer que o impossível é possível e que na palma da mão cabe o universo inteiro, galáxias e corpos que não se podem percepcionar com os seis sentidos. Na ponta do pincel, num básico grito de desespero está a hipótese de criar, de viajar, de sentir, de experimentar, de conseguir, de saber e descobrir.
Recomeçar é ser livre. Livre para fracassar e descobrir que não descobriu, para desiludir e destruir até não ficar nada.

Livre para recomeçar.




Hugh Jackman em The Fountain de Darren Aronofsky (2006)


1 comentário:

Judie disse...

Recomeçar é inúmeras vezes mais dificil do que começar...nasce do pânico de se ficar na mesma, das dores de não se querer ser quem se foi. É algo que não consigo fazer agora. Por enquanto deixo-me...ser.